sexta-feira, 21 de março de 2014

REELEITURA DE UM TEXTO LITERÁRIO

Uma reeleitura do texto “Construção – Chico Buarque”
A noite cai pela última vez...
“Psiu, psiu, acorda Frederico...olhe, o dia está lindo!”. “Ah, me deixa ficar só mais um pouco”. “Negativo já está atrasadíssimo para o trabalho”. “Está bem”.
Após vestir-me e tomar café, saí para a construção da mansão do velhote milionário Ericxin. O dia foi árduo, difícil até para o mais hábil dos construtores, parece sempre os mesmos movimentos, a rotina me enfada, volto para casa de metrô, esta lotado, não caberia mais nem uma mosca neste vagão.
 Ao chegar em casa encontro minha mulher Elisa esperando-me sentada no sofá  vendo um programa na televisão, me sento ao seu lado, estou sujo, mas Elisa não protesta. Pergunta como foi meu dia. Ignoro e simplesmente não prossigo no assunto, pois parece não interessar a ela. O silencio torturante toma conta do ambiente, que de repente é quebrado por um estalo que ecoa pela casa, são as velhas escadas de madeira que rangem noite após noite, sem mesmo serem tocadas. Olho demoradamente para minha mulher, parece que o tempo para ela não passa, continua linda, resolvo tomar um banho, enquanto me retiro Elisa reclama de Gabriel e Lucas que não haviam dado sossego o dia todo, são gêmeos e adoram detonar a casa gastando suas energias.
O sol esta se pondo e os raios solares iluminam o velho Tristan. Após o banho resolvo ir a sala onde geralmente encontro a “paz”, mas neste dia que não é qualquer dia, não a encontro. Algo de inquieto se apossa de mim.
Vou ao quarto onde Elisa repousa, beijo-a, sinto o amor quase quebrado, recordo o amor que senti no nosso primeiro beijo e a emoção deste último, há uma antítese entre um e outro, Elisa está serena, não acordou, assim vou ao quarto de meus filhos, olho-os, eles dormem abraçado como se assim ninguém pudesse separá-los, aproximo-me lentamente, beijo suas bochechas rosadas várias vezes, percorro mais alguns instantes ao cômodos da casa, desço as velhas escadas que gemem e saio para a rua.
Caminho pela noite a procura de algo, não sei ao certo o que procuro e nem que caminho tomar, só quero andar e andar ou esquecer,  sem dar-me conta estou em um bairro estranho, vislumbro um bar e entro. Sento-me. Peço uma bebida forte, tomo como se este líquido matasse minhas tristezas e afogasse minhas magoas. Rio ao sentir algo girar dentro de mim. Danço mesmo sabendo que todos me olham, ao dar-me conta que o bar esta vazio, solto uma gargalhada estridente e peço comida, a mais cara, não tinha, mas imagino algo precioso e bom que alimente a minha alma e mate minha fome de tudo que me coroe.
O sorriso em meu rosto é desfeito ao lembrar de meu lar, de minha esposa e de meus  filhos e do imenso amor que sinto por eles, mas uma tristeza me abate novamente, lembro que não sou bom para eles nem para mim mesmo. Saio a esmo novamente, olhou uma ponte ao longe, abaixo dela trafega muitos veículos. Ao dialogar com ela, a ponte, exprimo todo meu desprezo para com aquela passagem que leva a riqueza e a pobreza, e agora parece que esse objeto serve para uma explosão de sentimento que não mais cabe em meu peito.
Atravesso a rua com meu passo lento como se não quisesse chegar aonde eles querem me levar, subo o aclive, subo mais e sinto minhas pernas como chumbos, troco meus passos como máquinas que manipulam pessoas, subo e chego, olho agora de cima, vejo tudo e todos, até aquela lua sem brilho que chegou ao seu limite de altura e só falta cair, assim como eu Frederico, só falta cair, a maldita frase ecoa em minha mente.
Sinto asas, sinto-me livre para acompanhar a lua. Pulo os segundos, voo, chego ao limite como a lua e deixo de brilhar. Ouço novamente a voz chamar: “Psiu, psiu, acorda Frederico”...mas não consigo alcançar meu corpo, sigo com a lua.
Estudante: Paulo
1º ano da Formação de docente

Professora tutora: Lourdes Scobar


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