Uma reeleitura
do texto “Construção – Chico Buarque”
A
noite cai pela última vez...
“Psiu, psiu, acorda
Frederico...olhe, o dia está lindo!”. “Ah, me deixa ficar só mais um pouco”.
“Negativo já está atrasadíssimo para o trabalho”. “Está bem”.
Após vestir-me e tomar café,
saí para a construção da mansão do velhote milionário Ericxin. O dia foi árduo,
difícil até para o mais hábil dos construtores, parece sempre os mesmos
movimentos, a rotina me enfada, volto para casa de metrô, esta lotado, não
caberia mais nem uma mosca neste vagão.
Ao chegar em casa encontro minha mulher Elisa
esperando-me sentada no sofá vendo um
programa na televisão, me sento ao seu lado, estou sujo, mas Elisa não
protesta. Pergunta como foi meu dia. Ignoro e simplesmente não prossigo no
assunto, pois parece não interessar a ela. O silencio torturante toma conta do
ambiente, que de repente é quebrado por um estalo que ecoa pela casa, são as
velhas escadas de madeira que rangem noite após noite, sem mesmo serem tocadas.
Olho demoradamente para minha mulher, parece que o tempo para ela não passa,
continua linda, resolvo tomar um banho, enquanto me retiro Elisa reclama de
Gabriel e Lucas que não haviam dado sossego o dia todo, são gêmeos e adoram
detonar a casa gastando suas energias.
O sol esta se pondo e os
raios solares iluminam o velho Tristan. Após o banho resolvo ir a sala onde
geralmente encontro a “paz”, mas neste dia que não é qualquer dia, não a
encontro. Algo de inquieto se apossa de mim.
Vou ao quarto onde Elisa
repousa, beijo-a, sinto o amor quase quebrado, recordo o amor que senti no
nosso primeiro beijo e a emoção deste último, há uma antítese entre um e outro,
Elisa está serena, não acordou, assim vou ao quarto de meus filhos, olho-os,
eles dormem abraçado como se assim ninguém pudesse separá-los, aproximo-me
lentamente, beijo suas bochechas rosadas várias vezes, percorro mais alguns
instantes ao cômodos da casa, desço as velhas escadas que gemem e saio para a
rua.
Caminho pela noite a procura
de algo, não sei ao certo o que procuro e nem que caminho tomar, só quero andar
e andar ou esquecer, sem dar-me conta
estou em um bairro estranho, vislumbro um bar e entro. Sento-me. Peço uma
bebida forte, tomo como se este líquido matasse minhas tristezas e afogasse
minhas magoas. Rio ao sentir algo girar dentro de mim. Danço mesmo sabendo que
todos me olham, ao dar-me conta que o bar esta vazio, solto uma gargalhada
estridente e peço comida, a mais cara, não tinha, mas imagino algo precioso e
bom que alimente a minha alma e mate minha fome de tudo que me coroe.
O sorriso em meu rosto é
desfeito ao lembrar de meu lar, de minha esposa e de meus filhos e do imenso amor que sinto por eles,
mas uma tristeza me abate novamente, lembro que não sou bom para eles nem para
mim mesmo. Saio a esmo novamente, olhou uma ponte ao longe, abaixo dela trafega
muitos veículos. Ao dialogar com ela, a ponte, exprimo todo meu desprezo para
com aquela passagem que leva a riqueza e a pobreza, e agora parece que esse
objeto serve para uma explosão de sentimento que não mais cabe em meu peito.
Atravesso a rua com meu
passo lento como se não quisesse chegar aonde eles querem me levar, subo o
aclive, subo mais e sinto minhas pernas como chumbos, troco meus passos como
máquinas que manipulam pessoas, subo e chego, olho agora de cima, vejo tudo e
todos, até aquela lua sem brilho que chegou ao seu limite de altura e só falta
cair, assim como eu Frederico, só falta cair, a maldita frase ecoa em minha
mente.
Sinto asas, sinto-me livre
para acompanhar a lua. Pulo os segundos, voo, chego ao limite como a lua e
deixo de brilhar. Ouço novamente a voz chamar: “Psiu, psiu, acorda
Frederico”...mas não consigo alcançar meu corpo, sigo com a lua.
Estudante: Paulo
1º ano da Formação de docente
Professora tutora: Lourdes Scobar
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